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Aloe vera ou Aloe Barabanensis Miller

Créditos foto: Alex Botsaris

Este arquivo apresenta uma reunião de estudos sobre a planta, para facilitar suas pesquisas. À medida do possível, iremos acrescentar outros. Conteúdo voltado para profissionais da área médica.

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Babosa (Aloe vera ou Aloe barabadensis Miller – Aloaceae)

O uso de espécies de Aloe para queimaduras cutâneas pelo homem data anos antes da idade Cristã. A Aloe vera foi descrita nos papirus de Ebers, pelos povos egípcios. O nome Aloe deriva do grego, alloeh do árabe e halal é hebraico, significando, em todos os casos: substância amarga e brilhante. A babosa é usada externamente para tratar queimaduras, úlceras, cortes e infecções parasitárias da pele há muitos séculos (ZAWAHRY, HEGAZY & HELAL, 1973).

Existem cerca de 300 espécies diferentes de Aloe(SPOERKE & EKINS, 1980).

A. vera L. ou A. barbadensis M. é uma planta perene e de porte herbáceo, da família das Liliáceas, de distribuição mundial. Sua origem é incerta, mas alguns autores afirmam ser natural do sul da Europa próximo do Mediterrâneo. Atualmente é amplamente cultivada em todo o mundo (ALONSO, 1998).

As folhas da babosa possuem um conteúdo com um sumo de consistência viscosa, que tradicionalmente é usado no tratamento da pele. Este sumo, após ser seco é utilizado pela indústria cosmética e por farmácias de manipulação na formulação de produtos. Quimicamente é composto por glicosídeos antraquinônicos (20% de barbaloína, beta-barbaloína, isobarbaloína, que por hidrólise originam Aloe-Emodinas e seus glicosídeos: aloinosídeos A e B; e aloína), resina (16-63% de ácido cinâmico em combinação com resinotanóis, que originam as aloeresinas A, B, C e D), polissacarídeos (0,8 a 1,2% - aloenanan, gluconanan, manonan e outros polímeros da glicose, xilose e manose), enzimas (amilase, catalase, oxidase), ácidos orgânicos (ácido hexurônico, glicurônico, lático e pentenoil-glutâmico), lipídeos (colesterol, fitosteróis, ácidos graxos, esqualeno), saponinas esteroidais, ácido crisofânico, óleos essenciais e fixo e íons como cálcio, cloreto, potássio e sódio (ALONSO, 1998; SPOERKE & EKINS, 1980).

Diversos estudos demonstraram que Aloe vera possui potente atividade antimicrobiana, e antiinflamatória. De acordo com o ensaio de edema de pata de rato, A. vera reduz o edema em 54,2% em uma dose de 100mg/Kg (Alonso, 1998). Isto pode ser explicado pela liberação de mediadores com ação imunomoduladora, por redução da permeabilidade vascular e também por redução da síntese de prostaglandinas (LEE & al 1999, Alonso, 1998; Somboonwong & al, 2000) Sua atividade antimicrobiana foi largamente testada por vários autores. Entre as bactérias susceptíveis ao extrato temos vários germes comuns em infecção de pele como Staphylococcus aureus, Streptococcus pyogenes, e Pseudomonas sp e as subatâncias ativas são os derivados antraquinônicos (Alonso, 1998). A atividade bactericida relaciona-se em parte com os bons resultados obtidos com gel de Aloe vera no tratamento de queimaduras (Kaufman & al, 1988)

Os efeitos hidratantes de A. vera, por sua vez, são os mais reconhecidos. Alguns açúcares e lactatos podem ser responsáveis pelas propriedades de hidratação de espécies de Aloe e podem retardar os perfis de perda de umidade de formulações dermocosméticas. Soluções de gel de aloe foram comparadas com propileno glicol e glicerina quanto à evaporação de água, através do método da perda de peso. Os resultados mostraram que Aloe apresenta efeito de reter a umidade. No entanto, esse efeito é menor que aquele demonstrados pelos glicóis. Adicionalmente, o gel de Aloe, quando combinado a um glicol, ocasiona um sinergismo de umectação, quando comparados ao somatório dos efeitos dos ativos separadamente (MEADOWS, 1980).

Além de açucares e lactatos, Aloe vera possui oligo e polissacarídeos também chamados de mucilagens. Ao penetrar na pele, esses compostos carream moléculas de água adsorvidas em seu interior diretamente até níveis mais profundos da epiderme, mantendo a sua hidratação. Além disso, também formam uma barreira na superfície da pele prevenindo a perda de água por evaporação. Deve-se esclarecer que este efeito hidratante de A. vera é proporcional à concentração utilizada do extrato na fórmula do produto bem como da finalidade a que este se destina. (WALLER, 1992).

Extratos de babosa exibem ação marcante sobre a microcirculação cutânea. Após a lesão da pele, há uma redução do processo inflamatório em função de uma menor aumento da permeabilidade capilar de vasolilatação venular. Porém na fase mais tardia, quando a cicatrização se inicia, há uma aumento no fluxo sanguíneo da mcrocirculação (Soliboonwong, 2000) Quando aplicada em altas concentrações (acima de 50%) em pele sadia, há um aumento do fluxo sangüíneo local nas áreas de aplicação. Isto pode também se relacionar com a melhora da hidratação da pele pois aumenta a oferta de água e eletrólitos à nivel da derme. Maior fluxo de sangue na derme também funciona como um estímulo ao metabolismo e a renovação da celular Efetivamente, polissacarídeos e glicoproteínas de Aloe vera atuam de forma trófica sobre queratínócitos, estimulando e reepitelização da epiderme (Yagi & al, 1997). Além de suportar sua atividade cicatrizante, esses estímulos tróficos auxiliam na recuperação da microarquitetura da epiderme, aumentando a eficiência do extrato córneo em impermeabilizar a pele e conter as perdas de água (Chithra & al, 1998). Podemos ainda atribuir aos lipídeos da Babosa uma potencialização da impermeabilização de pele devido à sua constituição semelhante à das lamelas do extrato corneo (PAEPE, 1996)

O gel ou o extrato de Aloe vera tem se mostrado um excelente ativo no tratamento de queimaduras da pele por calor ou radiação. Num estudo controlado com queimadura experimental, a Babosa foi superior ao gel com sulfadiazina, tanto em prevenir infecção como em aumentar a velocidade de cicatrização. Ela aumenta o metabolismo do colágeno na região lesada, incrementando a sua deposição no tecido de granulação, aumenta a concentração de colágeno tipo III, acelera o processo de granulação e cicatrização e aumenta a síntese e deposição de glicosaminoglicans na matrix intercelular (Chithra, vários). Aloe vera também reduz os sintomas de queimadura induzidos por radioterapia e previne a imunossupressão induzida por ultravioleta (Lee & al, 1999; Olsen & al, 2001). Os seus polissacarídeos como o aloenanan são apontados como responsáveis por esta ação em função de sua atividade imunomoduladora (Strickland & al, 1999; Yagi, 1999). Outro mecanismo estudado é através da ação de suas enzimas antioxidantes como a peroxidase e a catalase (Esteban & al, 2000).

Uso cosmiátrico:

Algumas considerações devem ser feitas em relação à formulação de um produto com extrato ou gel de Aloe: deve-se adicionar substâncias antioxidantes na fórmula, uma vez que Aloe tende a oxidar-se com o tempo; preservantes também devem fazer parte da fórmula já que Aloe é muito susceptível à contaminação microbiológica; excessivo aquecimento durante a produção deve ser evitado, para prevenir oxidação e não causar desnaturação de enzimas e proteínas presentes na composição de Aloe. Estudos têm sido realizados avaliando a estabilidade físico-química de formulações contendo extratos de A. vera em função de sua concentração (LEONARDI et al.2000). A adição de lanolina, alantoína ou carotenóides à formulação, potencializa o efeito hidratante de Aloe vera (Alonso, 1998)

As principais indicações cosmiátricas de Aloe vera é como componente de fórmulas hidratantes para pele ou cabelos ressecados ou em loções pós-sol para atenuar o ressecamento e o eritema cutâneo (Waler, 1992; Lee, 1999, Mantle, 2001, Alonso, 1998). Pode ser usado em concentrações de até 10% conforme a intensidade de efeito desejado, sob forma de gel (Alonso, 1998).

A adição do seu extrato em produtos tensoativos para higienização do rosto e corpo é outra indicação que está sendo proposta, já que permite reduzir o ressecamento cutâneo induzido por esses produtos (Waler, 1992. Olsen, 2001)

Há ainda uma indicação como cicatrizante no pós-operatório de cirurgias plásticas, para acelerar a cicatrização e reduzir a resposta inflamatória (Pribitkin & Borger, 2001).

Estudos de segurança

Extrato de Aloe vera já foi usado em preparações locais, em vários estudos clínicos controlados sem que houvesse a identificação de reações adversas (Olsen, 2001; Williams & al, 1996). Um casos de alergia de contato ao gel de Aloe vera com confirmação por teste cutâneo foi reportado (Morrow, 1985).

 

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